29 de nov. de 2007

Poema


Ponto

Não quero ser o ponto final
Dessa sua história sem fim
Entre meios e embaraços
Entre laços de cansaço
Entre beijos e juras
Mascaradas de figuras

Seu suor muito me agrada
Mas meu temor diz não.
Por fraquejar
Vou por ai tentar me inspirar
Nesse seu abraço
Em descaso
Com a solidão

Amiga do peito
E com muito respeito afirmo
Que esse embaraço
É mau jeito, é prosa amada
Verso de poesia
Uma lira desgovernada
Cheirando a fantasia

Não quero ser o ponto final
Dessa sua história sem fim
Entremeios de te ganhar
Anseios de te perder
Luto, poeta torto,
Perdido em poesia:
O ponto final que fique pra outro dia!
.
(Rômulo Chaul)

21 de nov. de 2007

Poema


Pá furada

Eu te quis, sem saber o porque
Nem a hora, nem o talvez,
Simplesmente te quis.
E o talvez, nem teve hora
Não teve porque, não teve raiz!
Escala em sol maior
Não teve lira nem compêndio
Esqueci o ré e o dó menor

Eu te quis, antes de mais nada
Nem cruz nem espada
Nem Djavan com flor de lis
Eu te quis!
Eu te quis, como jamais pudera
Nem cordeiro nem quimera
Quem pudera imaginar:
Eu ainda te quero, eu sempre te quis!

Hoje, com tempo e contratempos
Repito: Eu te quis!
Eu, só me acho em ti!

E reencontro, todo dia quando acordo
O sentimento gratuito de te querer!
E ver que vida é mais que parapeito
São opostos estreitos, ruas cruzadas!
E sem medo afirmo, sem receio do remorso:
Amor, sem você sou pá furada!
.
(Rômulo Chaul)

16 de nov. de 2007

Poema


Certa Vez

Certa vez você me disse:
“- Depois de tantas brigas,
Sabe o que eu reparei?
Que pela primeira vez na vida,
Eu nem sequer chorei!”

Certa vez você me emudeceu:
“-Hoje você me perdeu
No primeiro grito
Que você deu!”

Certa vez você me falou:
“-O que aconteceu com nós?
Porque a gente está assim?
O que foi que mudou?”

Certa vez você me alertou:
“-Cuidado, quem só dá carinho
E não recebe, não sente falta!”
(Nosso amor está na UTI,
E parece que não vai receber alta)

Certa vez eu te pedi:
Não cometa os mesmo erros
Que eu cometi!

Aliás, ferida Re-aberta
Demora mais pra cicatrizar!
.
(Rômulo Chaul)

Poema

“Toda saudade é uma espécie de velhice”

Sim,
Estou com saudades de um tempo, que não volta mais
Em que tudo tinha mais graça, em que o céu
Era muito mais colorido, e o Sol não incomodava tanto.

Estou com saudade de andar na rua e achar graça
De tudo aquilo que reluz.
Hoje,aos prantos, grito aos quatro cantos:
-Pra onde você se foi?!!

E foi de tal jeito que nem deixou rastros
Nesses braços castos, em que um dia se deitou
De longe, tão distante pediu a felicidade:
-Acolhe aquele que mais me amou

Por óbvios motivos creio que não fui eu
Já que há tempos não sei o que é sorrir
Alias, sorrir virou minha sina
Sorrio para os velhos e para as meninas

Sorrio como o triste palhaço
Que a todos diverte tentando disfarçar
E por mais alegre que pareça a dor do palhaço
Tal tristeza, se percebe no olhar

Saudade, filme em preto e branco
Sonhando sandices,
De Guimarães
Rosa que corta o peito, e com todo respeito,
Confirmo:
Toda saudade é uma espécie de velhice!

.

(Rômulo Chaul)

4 de nov. de 2007

Crônica


A banalização do ato

“Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente” já dizia Camões. Então porque tanta gente sofre pro amor? Porque tanta gente mata, morre e causa dor em nome do amor?
É engraçado, hoje em dia o amor é banalizado, assim como o ‘eu te amo’ é banalizado. As pessoas o usam a toa, a toda hora, sem se darem conta do seu significado, da sua força. O ‘eu te amo’ está tão comum quanto nosso ‘bom dia’, tão significativo quanto nosso ‘como vai?’ e tão sincero quanto nosso ‘bem e você?’. O amor caiu em desuso.
Mas se levarmos em conta o estilo de vida dessa geração é fácil entender isso. O mundo está cada vez mais individualista. O ser humano se acostuma cada vez mais em ser solitário, apensar só nele, a ser mais frio e insensível. Tanto é verdade que hoje em dia trombamos uns com os outros só pra ver se ainda sentimos. Pra ver se estamos vivos.
Eu até entendo Camões, antigamente amar era pra vida ‘toda’, era pra sempre, mesmo que sempre não seja todo dia. Hoje amar é brega, é tolice, “coisa pra trouxa”, bom é curtir, é ficar. Não que relacionamento a dois seja fácil, pelo contrário, é mais difícil do que se pensa, conviver com outro ser humano diariamente requer esforço, vontade. Já dizia o poeta goiano Marcos Caiado: “Vida a dois é assim: Num dia rima, no outro, esgrima”.
Porém essa geração não quer amar, não quer sentir, quer apenas satisfazer seu anseio, matar sua vontade, por isso banaliza o ‘inbanalizavel’, mata o imortal. E quando em seu desespero de suprir seu vazio, o ser humano se vê na iminência de perder seu ‘amor’, morre e se mata em nome dele. Mata e morre sem entendê-lo. Mata e morre da mesma maneira banal que usa o amor.
Camões que me perdoe, mas o Amor caiu em desuso!

(Rômulo Chaul)