17 de mar. de 2016

Poema




Desabafo

Não sei nem se é descaso
Desprezo ou algo assim
Não sei de onde vem
Esse relaxo
Posto de lado
O amor em mim

Sei que tá estranho

A conversa não flui
A presença incomoda
O lado certo da cama dói

Cada dia mais
Nós dois
Não mais
Nos encontramos debaixo dos lençóis

O pior é ficar no escuro
E ficar imaginado o que se passa
O que não passa
E o que já foi

Já foi?
Já?

Aqui jaz o poema que outrora se derreteu
Hoje morre de frio
A lua
A pele nua da sua tatuagem
E a cor da sua tez

Diz que é miragem essa solidão
Diz que está de passagem essa friagem
E não tarde a voltar pra casa
...

Mas trate de voltar de vez


.

(Romulo Chaul)

1 de mar. de 2016

Poema




Luto

Negação:
Não te escrevo carta
Nem mais peço que retorne mensagens
Tudo que penso e quase falo
Calo
Desisto

Devoro
E de longe o poema adoece
De longe o pensamento trai
A cama, a bagunça
A invariável dúvida que fica
O lençol já era sujo
Ou quem sujou foi a ferida?

Ira:
Como ousa ir assim
Sem mais nem menos
Sem levar em conta
Planos
Momentos
Roteiro a duas mãos
(As dele)

Fotos de paisagens
Pescoço recortado
Pedaços mal enquadrados
Para não se entregar

É nele que mora seu chão

Barganha:
Peça perdão

Pela roupa de cama que insisto em não trocar
Pelo sorriso falso com que te recebo
Pelo jeito que finjo que não importa
Que finjo que tenho portas abertas
Pra você

Peça perdão pelo grão de nesga que fico feliz em ter

Tristeza:
Já se pôs a mesa
E serve todo dia de café-da-manhã!
Com hífen
E exclamação

Bebo, nada de leve
Sem receio

Dor de cabeça e desidratação
Advil

Há de vir
Em uma semana
Meia hora dessa desforra
Que insisto em permitir

Aceitação:
Na hora da verdade
Perceber
Que não mais
Sinto falta de você

No lado certo do colchão.

.

(Romulo Chaul)