4 de nov. de 2007

Crônica


A banalização do ato

“Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente” já dizia Camões. Então porque tanta gente sofre pro amor? Porque tanta gente mata, morre e causa dor em nome do amor?
É engraçado, hoje em dia o amor é banalizado, assim como o ‘eu te amo’ é banalizado. As pessoas o usam a toa, a toda hora, sem se darem conta do seu significado, da sua força. O ‘eu te amo’ está tão comum quanto nosso ‘bom dia’, tão significativo quanto nosso ‘como vai?’ e tão sincero quanto nosso ‘bem e você?’. O amor caiu em desuso.
Mas se levarmos em conta o estilo de vida dessa geração é fácil entender isso. O mundo está cada vez mais individualista. O ser humano se acostuma cada vez mais em ser solitário, apensar só nele, a ser mais frio e insensível. Tanto é verdade que hoje em dia trombamos uns com os outros só pra ver se ainda sentimos. Pra ver se estamos vivos.
Eu até entendo Camões, antigamente amar era pra vida ‘toda’, era pra sempre, mesmo que sempre não seja todo dia. Hoje amar é brega, é tolice, “coisa pra trouxa”, bom é curtir, é ficar. Não que relacionamento a dois seja fácil, pelo contrário, é mais difícil do que se pensa, conviver com outro ser humano diariamente requer esforço, vontade. Já dizia o poeta goiano Marcos Caiado: “Vida a dois é assim: Num dia rima, no outro, esgrima”.
Porém essa geração não quer amar, não quer sentir, quer apenas satisfazer seu anseio, matar sua vontade, por isso banaliza o ‘inbanalizavel’, mata o imortal. E quando em seu desespero de suprir seu vazio, o ser humano se vê na iminência de perder seu ‘amor’, morre e se mata em nome dele. Mata e morre sem entendê-lo. Mata e morre da mesma maneira banal que usa o amor.
Camões que me perdoe, mas o Amor caiu em desuso!

(Rômulo Chaul)

2 comentários:

Carlos Alexandre disse...

destruiu na cronica, hein?
gostei bagarái.
já escrevi uma pá de coisas parecidas... por isso, concordo com 99% (ou 100%) do que vc fala...
é...
Abração, rapaz!

Anônimo disse...

"Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou!
Daqui estou vendo o sangue
que corre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã."

Carlos Drummond