27 de set. de 2016

Poema



Reposicionamento

Esse não é um daqueles poemas
Que se vomita bêbado
Às 4 da manhã
Com uma pitada de carinho
E um quarto de solidão

Esse poema é um ódio destilado
Que escrevo
Pra evitar te dar um murro
Quando te ver

Esse poema doí

Mais doí mais em mim,
Do que em você

É a prova do saco cheio
Do amor estropiado
E da graça, desgraça
Que enfeitou meu colchão

Solitário
Frio
Frígido

E nem pensem que é ladainha
Que é medo de deixar sozinha
Medo dela escapar

Se o que escapuliu foi seu sol
Que só arde na rua
E esfria feito grua
Quando nua no meu penar

É mais um grito que está engasgado
Quando você pensa que pode enganar

Eu sinto um bocado de ódio
Por não ver
Que e vida girou
E agora eu estou no mesmo lugar
Que o outro estava há cinco anos

Eu sou o futuro do pretérito
Nos seus planos.

.

(Romulo Chaul)

25 de ago. de 2016

Poema



Blasfêmia

Não sou santa, nem puta
Escuta:
Eu sou um pedaço de arte enfeitada

Glorificada de pé!
(Merecida permuta)

Eu sou os pés que mendigo
Alcança
Enquanto pede proteção
Do frio e da fome

Os mesmos pés
Que o pedófilo idolatra
Depois do sermão

- A batina esconde!

Não se engane
Talvez seja mesmo santa
Vestida de Batman, Mulher Maravilha
Mil e uma cores
Feito aquarela

Talvez seja eu mesma
A santa da igreja
E aquela do Vaca Amarela

.

(Romulo Chaul)

9 de jun. de 2016

Poema




Junho

É sempre de vento em polpa
Que a contramão da descoberta
Nós pega

Por acaso
Acidente
Ou entrega.

Era na minha mão
Que o objeto estava
Quando o crime aconteceu

E era com a sua,
Na minha,
Que o pecado bateu à porta

-Entra!

Não faça cerimonia
Se deite no meu divã
Vamos daqui
De volta ao Vietnam
Relembrar belos momentos seus

-E se pudesse ficava.

Assim: Na lata!

Quantas mais leis de Newton
Tenho que aguentar
Fingindo não ver sua relação
Inércia...
(Ação e Reação)

Falta mesmo é paz
Falta ar

Falta você parar de dar moral
E voltar a fingir que está tudo mil maravilhas
Mas responde a melhor de todas:

- E você, já arrumou parceiro pra dançar quadrilha?

.


(Romulo Chaul)

17 de mar. de 2016

Poema




Desabafo

Não sei nem se é descaso
Desprezo ou algo assim
Não sei de onde vem
Esse relaxo
Posto de lado
O amor em mim

Sei que tá estranho

A conversa não flui
A presença incomoda
O lado certo da cama dói

Cada dia mais
Nós dois
Não mais
Nos encontramos debaixo dos lençóis

O pior é ficar no escuro
E ficar imaginado o que se passa
O que não passa
E o que já foi

Já foi?
Já?

Aqui jaz o poema que outrora se derreteu
Hoje morre de frio
A lua
A pele nua da sua tatuagem
E a cor da sua tez

Diz que é miragem essa solidão
Diz que está de passagem essa friagem
E não tarde a voltar pra casa
...

Mas trate de voltar de vez


.

(Romulo Chaul)

1 de mar. de 2016

Poema




Luto

Negação:
Não te escrevo carta
Nem mais peço que retorne mensagens
Tudo que penso e quase falo
Calo
Desisto

Devoro
E de longe o poema adoece
De longe o pensamento trai
A cama, a bagunça
A invariável dúvida que fica
O lençol já era sujo
Ou quem sujou foi a ferida?

Ira:
Como ousa ir assim
Sem mais nem menos
Sem levar em conta
Planos
Momentos
Roteiro a duas mãos
(As dele)

Fotos de paisagens
Pescoço recortado
Pedaços mal enquadrados
Para não se entregar

É nele que mora seu chão

Barganha:
Peça perdão

Pela roupa de cama que insisto em não trocar
Pelo sorriso falso com que te recebo
Pelo jeito que finjo que não importa
Que finjo que tenho portas abertas
Pra você

Peça perdão pelo grão de nesga que fico feliz em ter

Tristeza:
Já se pôs a mesa
E serve todo dia de café-da-manhã!
Com hífen
E exclamação

Bebo, nada de leve
Sem receio

Dor de cabeça e desidratação
Advil

Há de vir
Em uma semana
Meia hora dessa desforra
Que insisto em permitir

Aceitação:
Na hora da verdade
Perceber
Que não mais
Sinto falta de você

No lado certo do colchão.

.

(Romulo Chaul)

2 de fev. de 2016

Poema




Redenção

Num clima cinza, numa tarde de lamentos
Relembro, com muito peso
Que há pouco tempo
Nem tinha motivos pra te clamar

Sua língua não mais ardia no meu calcanhar
Fui dar a cara a tapa no chão

Você que roeu mais do que meus apelos
Que vomitou centenas de beijos
E desviou dos mais sinceros olhares
Hoje vê o passado com aflição

Quem deixou passar?
Quem tomou de assalto
O nó da orelha
Do embargo proposto
Em vão?

E todavia, eu
Alheio ao carnaval
(Que folia!)
Via motivos pra duvidar da memória

Eu sempre fui assim:
Meio que o vilão da história

.


(Romulo Chaul)

1 de out. de 2015

Poema





Oralidade

O que eu sinto
Escondo muito bem
Daquele jeito
Que só se revela
Quando a gente se vê:

Olho no olho, faísca no ar.

Queria te agarrar
Pra matar essa saudade
E tirar mil dúvidas

-Você sempre vai me causar poesia

Quero te usar
Durante algumas horas
Alguns dias
Até arrotar você
E saber:

Você ainda tem cheiro de biscoito?

Ninguém mata saudade
Engolindo vontade
Ninguém mata saudade
Engolindo coito

Vem
Nu e cru
Prefiro que seja assim

Minhas pernas ao redor da sua cara
Enquanto se emborca
E escancara a tara
E me chupa:

Inteira
Tim tim por tim tim

.
(Romulo Chaul)

5 de mai. de 2015

Poema



Nostalgia

Vale abraço apertado
Beijo roubado
E reciprocidade
Pra ser duradouro

Lembrar do passado
De como tudo foi
De como ontem eu era antes
E tinha pressa
E tinha sede
E ia com medo mesmo
Nessa vontade de morder você

Não queria ter que ser
Cheia de dedos
Mas sim:
Não te desculpo!
(É um direito meu)

Preciso te por na parede
E dar um basta
Nessa situação insustentável

- Que macumba é essa que tem de mim?

(Eu que queria tanta coisa)
Abraço
Sentir você com calma
Saber o que sinto

Desculpa!
Mea culpa, não minto!

Vou arrastando mais prazo
Desse amor que quase foi lindo.

.

(Romulo Chaul)

17 de abr. de 2015

Poema



Visita

Ontem eu te segurei no colo
E pela primeira vez te vi chorar
Vi largar
Aquela  máscara de mulher forte
De mulher faceira
Que vive a vida como Beauvoir

Ontem
Tudo que foi preciso
Foi um abraço
Plenas verdades e um zé moleza

Foi confiar que a caça
Não ia te avançar
E se deixar ser presa
Permitir sorrir
Depois de botar a cara à mesa
E descongelar esse coração vadio

Ontem tudo que foi preciso:
Eu, você e um quarto vazio...

.

(Romulo Chaul)

15 de abr. de 2015

Poema


Farsa

Até quando
Você acha que vou mendigando
Carinho, amor, afeto
Mendigando você por perto
Ou ser tratado bem

Ser tratado de acordo
Com o amor
Que diz ter posto
Sobre mim?

Não sei dizer
Mas cansa
Andar nessa corda bamba
Que é te querer e ter que te repudiar
Dizer eu te odeio
E se entregar no olhar cabisbaixo
Se entregar embaixo dos lençóis
(Nada mais a declarar)

É tudo farsa que faço
E refaço sempre que rola saudade
Sempre que rola aflição

Eu mesmo me entrego no pulo
Quando toca aquele nosso refrão

I wanna be yours

.
(Romulo Chaul)