Luto
Negação:
Não te escrevo carta
Nem mais peço que retorne mensagens
Tudo que penso e quase falo
Calo
Desisto
Devoro
E de longe o poema adoece
De longe o pensamento trai
A cama, a bagunça
A invariável dúvida que fica
O lençol já era sujo
Ou quem sujou foi a ferida?
Ira:
Como ousa ir assim
Sem mais nem menos
Sem levar em conta
Planos
Momentos
Roteiro a duas mãos
(As dele)
Fotos de paisagens
Pescoço recortado
Pedaços mal enquadrados
Para não se entregar
É nele que mora seu chão
Barganha:
Peça perdão
Pela roupa de cama que insisto em não trocar
Pelo sorriso falso com que te recebo
Pelo jeito que finjo que não importa
Que finjo que tenho portas abertas
Pra você
Peça perdão pelo grão de nesga que fico feliz em ter
Tristeza:
Já se pôs a mesa
E serve todo dia de café-da-manhã!
Com hífen
E exclamação
Bebo, nada de leve
Sem receio
Dor de cabeça e desidratação
Advil
Há de vir
Em uma semana
Meia hora dessa desforra
Que insisto em permitir
Aceitação:
Na hora da verdade
Perceber
Que não mais
Sinto falta de você
No lado certo do colchão.
.
(Romulo Chaul)
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