1 de mar. de 2016

Poema




Luto

Negação:
Não te escrevo carta
Nem mais peço que retorne mensagens
Tudo que penso e quase falo
Calo
Desisto

Devoro
E de longe o poema adoece
De longe o pensamento trai
A cama, a bagunça
A invariável dúvida que fica
O lençol já era sujo
Ou quem sujou foi a ferida?

Ira:
Como ousa ir assim
Sem mais nem menos
Sem levar em conta
Planos
Momentos
Roteiro a duas mãos
(As dele)

Fotos de paisagens
Pescoço recortado
Pedaços mal enquadrados
Para não se entregar

É nele que mora seu chão

Barganha:
Peça perdão

Pela roupa de cama que insisto em não trocar
Pelo sorriso falso com que te recebo
Pelo jeito que finjo que não importa
Que finjo que tenho portas abertas
Pra você

Peça perdão pelo grão de nesga que fico feliz em ter

Tristeza:
Já se pôs a mesa
E serve todo dia de café-da-manhã!
Com hífen
E exclamação

Bebo, nada de leve
Sem receio

Dor de cabeça e desidratação
Advil

Há de vir
Em uma semana
Meia hora dessa desforra
Que insisto em permitir

Aceitação:
Na hora da verdade
Perceber
Que não mais
Sinto falta de você

No lado certo do colchão.

.

(Romulo Chaul)

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