Poema

Lamento

Eu não entendo a importância desse antes
Se o agora está aqui
Te propondo tudo
Que você sempre quis

Eu não entendo
Qual o chamariz dessa importância
Se sua ânsia sempre foi estar aqui

Se tudo que você mais queria
Era eu, família, nossa casa pra morar
Dois filhos e oito gatos
O que mudou nesse espaço de tempo?
Quando foi que dois meses superou dois anos?
Quando foi que ambos ficamos assim?

Eu não entendo mais essa praga
Que tem de mim
Teria um motivo oculto
Ou apenas mudo está seu coração?

É ruiva, eu não sei mais o que te falar...

É uma pena, que na ânsia
Da minha alma pequena
Eu não soube te namorar.

.

(Romulo Chaul)

Poema

Erro

Eu estou sentido
Eu estou sentindo tanta coisa
De uma vez só
É tanta voz na cabeça
E ao mesmo tempo
Tanto eco e tanto vazio

E um coração tão grande
E tão partido
Que ás vezes acho que vou ficar louco

E as vezes acho pouco sofrer assim

Eu assumo
Fui eu quem quis o fim
Fui eu que não tive coragem de te aceitar de volta
Fui eu quem fechou a porta e não deixou você entrar

Eu fui fraco
Mas no fundo
Eu só sabia te amar

E agora é tarde para te ter
É tarde para uma reviravolta

Quando a gente fita
O precipício
Ás vezes
O precipício te fita de volta

.

(Romulo Chaul)

Poema

Retorno

Antes ainda era agora
Se perde no tempo
Ou então vai-se embora
E tudo que se pensa é:
Cadê o tempo que havia aqui?

Escafedeu-se

Outrora pensei no que era
Melhor para nós
Caminhos separas
E eu servindo de algoz?

Hoje, nessa vida que o tempo quis
Espero que a sua seja
Tudo aquilo que pensou
Que te faria feliz

E se não for
Insisto:
Eu ainda estou aqui!

Pra fazer virar real
O sonho
De um dia, onde já fui
Bem que se quis.

.

(Romulo Chaul)

Poema

Costume

Todo dia isso agora

O tempo todo isso

De querer te ver

De sentir sua falta

De não saber como prosseguir

Sem seu sorriso

Sem esse seu cabelo comprido

E o afago contido

De quem merece mais

O olhar de quem quer ir mais longe

De quem tem mais pra dar

Sabe, ruiva

Eu jamais sonhei que você faria falta

Que seu beijo me assombraria

Que seu beijo manteria

Aquele frio constante na barriga

Que eu sofreria só de pensar em poder te encostar!

Por isso,

Me faço de bobo

Por isso,

Hoje eu morro

Por isso,

Não sei mais para onde vou

Você quer o mundo, princesa?

- Me pede que eu te dou.

.

(Romulo Chaul)

Poema

Sal  

Era eu, garoto e um balde de agua fria

E é tão triste olhar para o passado e ver

Tudo de ruim que foi

Tudo de ruim que havia

Um coração ferido, mas que ainda bombeia

Sangue, transvestido de barata

E aquele pensamento que não para:

- Ela só queria a minha melhor versão

E quando eu mais tentei me doar

Quando eu queria seu melhor pra mim

Era apenas pra conhecer seu lado vão

Eu desagarrando da sua mão

(Aquela, de tantas noites frias)

Fez eu me afogar em outros mares

E com a brasa quente que agora carrego

Como outrora fora seus lábios

Me sinto em casa

E o tempo para:

Fui salvo pelo sal

Açúcar e comprimidos

Fui salvo de todas as coisas

Que você gostaria de se entregar

Fui salvo pelo sal

E o sabor

Daquele singelo padecer

Ela falava em salvar minha alma

E eu só queria ser completo com você

.

(Romulo Chaul – Adaptado da Música Salt – Shotgun Wives)

Poema

Desatado

Éramos dois corpos jogados na sacada

Misturando pernas e sussurros de amor

Jurando que o que passou foi bom

E que não era um simples fim

Apenas um até breve, passageiro.

O nosso choque de realidade chega rápido

No primeiro raio de sol que surge no horizonte

E nos lembra que as malas precisam ser feitas

A vida divida

E algumas coisas, jogadas fora.

Não éramos mais dois dividindo um nó

Éramos nós, desatando.

E a tristeza, servindo de força motriz

E como Lisbela diz:

- O amor é filme

Pena que o nosso

Não teve um final feliz

.

(Romulo Chaul)

Poema

Desjejum

Todo dia explodo um pouco por dentro

E tento expressar no papel

O que sinto

Finjo calma

Minto

Rasgo e jogo fora

- É tudo lixo!

É tanto cinza no mundo

Que as vezes até emudece a fala

A gente se cala e se tranca na fachada

Da despreocupação:

- Deixa o mundo pegar fogo!

(Eu não tenho nada a ver com isso, não!)

Mas aprendendo aos poucos

Que mais ou menos é a pior coisa que existe

É melhor estar alegre ou estar triste

Do que fingir que as coisas não são sentidas

Logo eu que já fui tão intensa

Logo eu que já fui tão movida

E esse poema

De meias verdades não ditas

Logo esse, que quase não foi escrito

Desperta

Mesmo quando já sabia o poeta

Que no mundo,

Todo dia morre algo de bonito.

.

(Romulo Chaul)

Poema

Sussurro

Eu que sempre fui poeta

Cheio de prenda bonita

Me vejo engasgado

Diante do reciproco

Do nada

Me quico em palavras singelas

É tanto tempo

Nessa bagunça

Que quando viu: 

Já era

(Já era tudo pra ser o que tinha)

E olha que tinha

Motivos pra ser sorriso teu

Abrindo um mar de calmaria

Espantando mundo breu

Má vá, vixe Maria!

Nem sei dizer o que se sucedeu

Acendeu luz, primeiro, fraquinha

Até alumiar espaço meu

E então ouvi da baixinha:

- Grandão, meu coração chega derreteu.

.

(Romulo Chaul)

Poema

Afasia

Não é o fim do mundo pra gente

Um dia pode ser melhor

Um dia você pode querer ficar comigo

Ou pode resolver não ficar mesmo

Eu tô tentando não ter mais pressa de nada

Eu já tive tanta e tanta coisa deu errado

Tanta coisa se dissolveu e me deixou triste

Pensando que é errado ser ingênua

E acreditar no amor

Não é o fim do mundo pra gente

Pode ser só o começo

De caminhos separados

Seguidos em frente

Sem eu te pedir

Não olha pra trás!

- Não olha!

Eu disse me despedindo

E sentindo que aquela era a última vez

Que eu tinha seu peito colado no meu

A última vez que meu coração de louça

Usava seu ralador de pia

A última vez que eu era a mulher

Singela e fria

Esperando você usar

A última infiel folia

Esperando o carnaval chegar

.

(Romulo Chaul) 

Poema

Rogativa

Vem aqui ser meu um tico

Só um cadim?

Deixa eu mirar esses teus olhos

De Jabuticaba gigante

E essa boca gostosa

Deixa eu ser verso e prosa

E te ganhar devagarim

Chega de mansim

E se aninha no peito

Se aprochegue

E me deixa sem jeito

Lançando minhas pernas

Nas suas costas

E te fazendo ouvir

Meu gemido

Deixa eu te mostrar

Que meu umbigo

Também é lar

E te fotografar

Na memória

Vem fazer do seu poema

Morada faceira

Da minha história

.

(Romulo Chaul)