18 de abr. de 2011

Poema


Trato


Seu cheiro de batom barato

Nosso contrato:

Atrito resvala,

Saudade é penicilina


Nessa solidão

Que nos equipara

Carência vira tara

Afago é vaselina


Entretanto essa menina

É cilada

Armada de jeito

Que pega e consome o leito


Reabre feridas

Mas tem aquela desilusão

Que chama,

Atrai feito imã


Tristeza de quem ama

Dessa eu sei.

Eu tinha.

Aquela solidão menina,

Aquela solidão era minha!


.

(Rômulo Chaul)


7 de abr. de 2011

Poema


Conclusão


Fim de papo

Fim da linha

Chega ao fim

A jornada preterida


Ferida em aspectos

Tais e banais

Tidos mais

Como amor


Errou quem pensou

Que aqui havia

Lugar

Todo dia: pega pra capar.


Acaba que deixa

Tudo meio

Alheio ao carnaval

Que corria


Sem pressa

Foi menos seresta

E mais folia

Jesus, Virgem Maria


Agora não há

Quem salve

Tamanho fracasso:

A paixão morre no dia a dia

.

(Rômulo Chaul)

17 de fev. de 2011

Poemette

Assim que cobiça meu peito
Que é teu por direito algoz
Sente um aperto certeiro
E foge de forma veloz

Sabe que tudo que sente
É por defeito ambição
A vida não anda pra frente
Se tudo é dor de antemão

.
(Rômulo Chaul)

12 de jan. de 2011

Poema


Fica a dica


Foda-se sua idade avançada

Sua mentalidade atrasada

E sua cara de mau.


Foda-se tudo que guarda

E leva pau a pau nessa vida

Tardia.


Vale mais dizer o que pensa

Sente e repudia.

Do que ficar vendo vento

Jogado ao ar.


Eu quero mais é fazer barulho

Esgotar prazo, chegar atrasado

E agir sem pensar.


Foda-se sua filosofia de vida

Suas manias ridículas

E sua maturidade elevada


Foda-se a escassez de tesão

E a vergonha de mostrar a cara

A tapa.


Vale mais pecar por excesso

Do que por zelo, ouvir apelos

E se estressar.


Eu quero mais é cair na farra

Arder em brasa e estrepar

Com uma barra de saia


Eu quero que tudo saia

Conforme o inesperado.

Parado, a vida

Fica pesada.


Se for pra me esperar:

Espera sentada.


.

(Rômulo Chaul)


13 de dez. de 2010

Poema


Instrução

Você que me sussurra ao pé do ouvido
Asneiras, besteiras e sacanagens
Que me arranha o corpo
E que me roça com boca cheia
Me joga na cama e bombardeia.
“-Me ama!”

Você que me propõe luz apagada
Entre quatro paredes e porta trancada
Enquanto rouba meu tempo livre
E me propõe com calma
Amor, rasgos e sandices
“-Me inibe!”

Você que nem pestaneja
Pra ser direta e me pede
Com voz concreta:
Me pega com braços firmes!
E que se engana com a força
De quem tem fome.
“-Me come!”

Não se limite:
Abra e depois agite!

.
(Rômulo Chaul)

8 de dez. de 2010

Poema


Desafio

Vai ver eu só precise de um porre,

Um samba e o coração partido

Pra te encontrar.

É sempre assim:

Eu fico feliz e a vida agradece.

Triste mais uma vez e a poesia enobrece.

Será que não dá pra conciliar?

Eu te procuro, te cutuco, me seguro

E nada. Nem uma brecha, nem uma brisa.

Nada além de um sorriso torto,

Um verso mal feito, um fado mal cantado.

Me encanta vai?

Mostra pra mim esse lado idealizado

Que fiz de você.

Me prova que estou certo

Querendo atenção,

Querendo saber se te testo!

Me prova e se lambuza!

Ou vai ficar só com o resto?

.
(Rômulo Chaul)



8 de nov. de 2010

Poema



Opção


Ela é estressada, dramática

Cheia de opiniões.

Entediada com seu final de semana


Ela é crítica, irônica

Cheia de mistérios

Esperançosa em achar quem a ama.


Ela é assim:

Começo, meio e fim

Nem sempre fácil de agradar


Mas tem em si

Algo que atrai; aquele brilho

De quem não deixa a desejar


Ela boteco, cerveja e jornal

Ela é nada de mal

Nessa vida amena.


Ela gosta de sexo

E diz que vibrador

Não é companhia pra cinema


Ela fala, xinga, chuta.

Se tu és a filosofia,

Ela trouxe a cicuta!


.

(Rômulo Chaul)



25 de out. de 2010

Poema


Recado

Fui ver
Quem é que estava ali
Você.
Arrastava a vida
Mas sem viver

Me encobre seu olhar
Canção certa, nota ao ar

Mas o que fazer?
Se o amor não transbordar
Nadar a esmo
Eu sei, tentei.
Você ao me tocar
O mundo tende a respirar

Então fui ver
Todo amor que tem aí
Falta fé
Pra colher
O amor que vier.

Vou juntar
Toda a dor pra não sofrer
E lançar
Fundo ao mar.
Uma chance pra resolver.

Mas o que fazer?
Se o amor não transbordar
Afogar nessa ilusão
Perdão.

Mas é você chegar
A vida tende a melhorar
Só te digo enfim
Vem cá!
Pra mim.

.
(Rômulo Chaul)

6 de out. de 2010

Poema


Diga


“Como deixar claro que eu te quero?

Faço uma graça, tiro a roupa, escrevo um verso?”

Faço piada com piar moderno?

Mostro o lado quieto ou louco?

Penso um pouco, mas nem chego perto.


Até o verso anuncia o incerto.


Não existe bom senso na ilusão.

Se meu olhar nada anuncia

Falta apenas oportunidade para ver

Crer que o parapeito da vida é alguém ao lado

Papo bobo esse, credo chato de se ter?


Como deixar claro que eu te quero?

Chega mais perto, descombina.

Que ao pé do ouvido

Te mostro onde termina a rima.


.

(Rômulo Chaul)

30 de set. de 2010

Poetas e eu

Soneto da devoção

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

.

(Vinicius de Moraes)